empatia hoje

Empatia hoje: ser empático não é para qualquer um

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Neste texto, vamos refletir sobre a seguinte ideia: empatia hoje não é para qualquer um, não se coloque no lugar do outro pois nada é o que parece ser.

Entendendo sobre a empatia hoje

Empatia é um termo bastante comum no meio psicanalítico. No coloquial costuma-se traduzir o termo como se colocar no lugar do outro.

O outro, subentende-se por uma composição de indivíduo diferente do eu, o lugar como espaço ocupado dentro de um espaço/tempo, se estivermos de acordo com esse significado de o outro e o espaço, logo podemos concluir que colocar-se no lugar do outro é impossível.

Podemos a partir daqui estabelecer que o colocar-se no lugar do outro é uma representação simbólica, onde o entendimento se firma na linguagem e além daquilo que parecer ser.

A empatia hoje na sociedade

Como afirma Mircea Eliade, o símbolo, o mito, a imagem, pertencem a substância da vida espiritual, que podemos camuflá-los, mutilá-los, degradá-los, mas que jamais poderemos extirpá-los (Imagem e Símbolos,1991, p. 8).

Nas últimas décadas tivemos um declínio de referenciais, em termos simbólicos, daquilo que nos norteava como civilização. Ao mesmo tempo que alguns dogmas perderam seu poder de controle, outras formas de controle assumiram essa posição, usando a falsa bandeira de liberdade, liberdade de expressão que nada mais é que fornecimento de dados para a alimentar a inteligência artificial e o big data.

Como civilização, o prejuízo da falta de referências talvez seja o de não manter-se direção alguma, não exercitando a constância, o manejo das frustrações versos expectativas, a capacidade de renúncia perante a escolha.

A ambivalência das emoções

Mantendo o indivíduo regredido às fases iniciais da infância, como a criança que se frustra e abandona a brincadeira, não suportando a ambivalência das emoções.

A “modernidade liquida” é um conceito de Zygmunt Bauman onde as relações sociais e de produção se assemelham ao líquido sendo maleáveis, moldáveis e fugazes o dificulta a criação de laços afetivos duradouros e profundos. Logo, estamos cada vez mais sozinhos. Essa efemeridade do comportamento social deixa uma marca mnêmica que se reflete no comportamento do indivíduo, como advertiu o sociólogo e filósofo Z. Bauman:

“No líquido cenário da vida moderna, os relacionamentos talvez sejam os representantes mais comuns, agudos, perturbadores e profundamente sentidos da ambivalência” (Bauman em Modernidade Líquida: sobre a fragilidade dos laços humanos).

A mentalidade maniqueísta

Na sociedade contemporânea, a mentalidade se tornou maniqueísta, polarizada é ganhar ou perder, amor e ódio, direita ou esquerda. O declínio dos grandes referenciais simbólicos afeta as relações e a vida cotidiana. Tudo ficou demasiado rápido, as respostas são encontradas rapidamente e sintetizadas.

Visto que ler somente a síntese não é ler o livro inteiro, a capacidade cognitiva de elaboração e compreensão retrocede. Ao perder-se a capacidade de elaboração da resposta atribuído um significado ao significante o contexto acaba por restrito, sintetizado perdendo a amplitude significativa, o signo perde partes da sua totalidade representativa.

Um dos reflexos é a atrofia da capacidade de elaborar é a dificuldade de reconhecer no outro e em si mesmo os sentimentos. Um dos reflexos desta atrofia é a diminuição da empatia, com a perda do simbólico, o eu virou o centro do universo, causando uma desconexão com o outro e com isso dificultando as relações humanas.

A empatia hoje e o significante

Relacionar-se é um ato de leitura simbólica do outro como semelhante, nunca como igual. Na alteridade do eu e do Outro, a comunicação através da linguagem, onde uma palavra para ter um significado, precisa de um significante.

Tomaremos por exemplo a palavra mata, ao adicionarmos uma segunda palavra, mata verde ou mata atlântica, a palavra mata assume um significado, a segunda palavra é o significante que nos permite obter o significado específico da palavra mata.

Com a rapidez de respostas e a absorção de conceitos sintetizados, a linguagem sofre essa mesma influência. As frases estão mais curtas para que um maior número de “conteúdo” possa ser consumido em menos tempo. Basta um olhar atento para perceber que esse comportamento social é menos .

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    O amor, ódio e a empatia hoje

    Saindo deste contexto de massa, observado por Z. Bauman, e observando os efeitos no indivíduo, podemos tomar por empréstimo o pensamento de J. Lacan, psicanalista e estudioso que encontra em Spinoza a inspiração para desenvolver o conceito das três paixões do Ser: amor, ódio e ignorância.

    Sim, a leitura está correta. Por mais assombroso que pareça, Lacan afirma ser a ignorância uma das paixões humanas. Outro conceito Lacaniano importante se fundamenta na linguística.

    A linguagem, segundo Lacan, é simbólica e o simbólico se expressa através da linguagem. O próprio inconsciente opera e se estrutura, manifestando-se através da linguagem.

    Conclusão

    Segundo Lacan, toda imagem traz por trás dela um furo, nada é o que parece ser ao primeiro olhar. A psicanálise é uma ciência de olhar para as falhas e furos, que a linguagem simbólica revela, aproximando o conteúdo expresso do real sentido para o comunicante.

    A psicanálise clínica, por ser estrutural e fundamentada da transferência do analisado para o analista que “abre os caminhos” para o analisando transpor a ignorância do sujeito acerca do que concerne na estrutura inconsciente, como manifestante, que transpõe o consciente e de forma simbólica, expressa através das falhas ou furos aquilo que estava nebuloso de significação.

    Portanto, ao falarmos desse suposto lugar do outro, nada se sabe sobre esse lugar, dado a grande dificuldade de perceber através de simplificadas teorias, os significados e afetações que esse lugar encerra, lugar este, pertencente ao outro.

    Este texto sobre a empatia hoje e os limites para ser empático foi escrito por Ezilda Azevedo, psicanalista formada pelo IBPC, instrutora de Yoga, apreciadora de filosofia. Contato para atendimentos on-line, chame pelo e-mail: [email protected].

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