Assunto central para entender o que são filho dourado e filho bode expiatório,

A Dinâmica da Mãe Narcisista: Filho Dourado e Filho Bode Expiatório

Publicado em Publicado em Transtornos e Doenças

Neste artigo vamos explorar as dinâmicas da mãe narcisista focando nas figuras do filho dourado e do filho bode expiatório.

Na psicanálise, o conceito de mãe narcisista está relacionado ao narcisismo primário e às dinâmicas inconscientes que moldam a relação mãe-filho. Uma mãe narcisista é frequentemente descrita como alguém que utiliza os filhos como extensões de si mesma, buscando suprir suas próprias necessidades emocionais e reforçar sua autoimagem. Essa dinâmica pode ser compreendida à luz de autores como Freud, Winnicott e Kohut.

Freud e o Narcisismo Primário

Sigmund Freud introduziu o conceito de “narcisismo primário”, que descreve um estado inicial em que o bebê percebe o mundo como uma extensão de si mesmo. No caso da mãe narcisista, ela pode permanecer presa a esse estágio, vendo os filhos não como indivíduos separados, mas como reflexos de suas próprias necessidades e desejos.

Winnicott e a Mãe Suficientemente Boa

Donald Winnicott, em contraste, destacou a importância da “mãe suficientemente boa”, que permite ao filho desenvolver uma identidade própria ao atender suas necessidades de forma equilibrada. A mãe narcisista, no entanto, falha nesse papel, pois suas demandas egocêntricas frequentemente sufocam a autonomia do filho.

Kohut e o Narcisismo Patológico

Heinz Kohut, por sua vez, explorou o narcisismo patológico, enfatizando como a falta de empatia e a necessidade de validação externa podem impactar as relações familiares. A mãe narcisista, segundo Kohut, projeta suas inseguranças nos filhos, utilizando-os como fontes de suprimento narcísico.

A visão de outros autores sobre o narcisismo materno

Melanie Klein: Klein investigou como as primeiras relações mãe-bebê moldam o desenvolvimento psíquico. Ela introduziu conceitos como a posição esquizoparanóide e a posição depressiva, que ajudam a entender como a dinâmica com uma mãe narcisista pode impactar a formação do ego e a internalização de objetos.

Silvia Zornig: Zornig aborda o narcisismo materno em suas obras, explorando como a mãe pode projetar suas próprias inseguranças e desejos nos filhos, afetando sua autonomia emocional.

Karyl McBride: Embora não seja psicanalista, McBride é amplamente citada em discussões sobre mães narcisistas. Em seu livro “Will I Ever Be Good Enough?” (Algum Dia Serei Boa o Suficiente?), ela descreve os impactos emocionais e psicológicos de uma filha cresce com uma mãe narcisista.

Ana Paula Marson: Marson discute o narcisismo materno em um contexto mais amplo, incluindo suas implicações para a saúde mental dos filhos e a perpetuação de padrões tóxicos.

Fernando González Rey: Ele explora as dinâmicas familiares e os impactos do narcisismo em contextos relacionais, oferecendo insights sobre como essas interações moldam a subjetividade.

Esses autores ajudam a compreender como o narcisismo materno pode afetar o desenvolvimento emocional e psicológico dos filhos, criando dinâmicas tóxicas que muitas vezes exigem intervenção terapêutica para serem superadas.

No contexto da psicanálise, a dinâmica entre mães narcisistas e seus filhos, especialmente a diferenciação entre o “filho dourado” e o “filho bode expiatório”, pode ser analisada a partir de conceitos centrais como o narcisismo, o ego, as projeções e as demandas inconscientes.

A Mãe Narcisista e a Projeção Psíquica

A mãe narcisista geralmente apresenta um ego fragilizado, necessitando de validação externa para sustentar sua autoimagem. Seus filhos, por conseguinte, tornam-se extensões simbólicas de si mesma, e é nessa relação que os papéis de “filho dourado” e “filho bode expiatório” emergem, evidentemente tendo a mãe mais de um filho.

O Filho Dourado

Este filho é projetado como a “idealização” da mãe. Ele carrega as aspirações, fantasias e desejos não realizados dela. Do ponto de vista psicanalítico, o “filho dourado” representa um “objeto narcísico” que satisfaz a busca da mãe por grandiosidade. Há uma transferência inconsciente de suas expectativas e uma tentativa de moldar esse filho para refletir sua “perfeição”. Essa idealização, no entanto, anula a individualidade do filho, transformando-o em um símbolo de sucesso da mãe.

O Filho Bode Expiatório

Este filho, por outro lado, absorve as projeções negativas da mãe. Ele é visto como o responsável por todos os aspectos que ameaçam sua autoimagem ou expõem falhas pessoais. Na psicanálise, esse processo pode ser compreendido como uma forma de “identificação projetiva”, em que a mãe deposita no “filho bode expiatório” traços que ela rejeita em si mesma. É a personificação do que ela não consegue aceitar sobre sua própria psique.

Os Papéis na Estrutura do Inconsciente Familiar

Esses papéis sustentam uma dinâmica inconsciente de poder dentro do núcleo familiar. Para a mãe narcisista, o “filho dourado” é uma fonte de suprimento narcísico positivo, enquanto o “filho bode expiatório” se torna o receptor do que Freud descreveu como pulsões destrutivas. Essa polarização gera uma assimetria afetiva e emocional no lar, que trazem consequências psicoemocionais que podem durar toda uma vida.

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    No “filho dourado”: A constante idealização pode levar ao desenvolvimento de um ego inflado e uma dificuldade em estabelecer limites próprios. Na vida adulta, isso pode resultar em dependência emocional ou uma identidade fragmentada, uma vez que ele foi moldado para servir ao narcisismo materno.

    No “filho bode expiatório”: As críticas e rejeições frequentes podem levar a sentimentos de inadequação e vergonha tóxica. Contudo, paradoxalmente, o “filho bode expiatório” pode desenvolver uma maior capacidade de resiliência e autoconhecimento, já que é forçado a confrontar as distorções impostas desde cedo.

    Relação com o Narcisismo Primário

    Sob a perspectiva da psicanálise freudiana, pode-se argumentar que a mãe narcisista está presa em um estágio de “narcisismo primário”, no qual o bebê inicialmente percebe o mundo como uma extensão de si mesmo. Ela não diferencia claramente os filhos como sujeitos independentes, vendo-os apenas como reflexos de suas próprias necessidades.

    Os papéis de “filho dourado” e “filho bode expiatório” podem ter efeitos de longo prazo significativos e profundos na vida dos filhos, impactando sua autoestima, seus relacionamentos e até mesmo a forma como percebem a si mesmos e o mundo. Vamos analisar as consequências típicas para cada papel:

    Efeitos no Filho Dourado

    Dificuldade em estabelecer identidade própria:

    O “filho dourado” muitas vezes sente que sua identidade está intrinsecamente ligada às expectativas da mãe narcisista. Em geral, pode ter dificuldade em descobrir quem realmente é, fora daquilo que foi idealizado ou esperado por ela.

    Perfeccionismo e medo de fracassar

    Acostumado a atender padrões extremamente elevados, o “filho dourado” pode desenvolver um perfeccionismo tóxico, vivendo com medo constante de desapontar os outros. Ele frequentemente associa seu valor pessoal ao desempenho ou ao sucesso.

    Dependência emocional

    Como foi condicionado a buscar validação externa, pode ter dificuldade em tomar decisões independentes ou confiar em suas próprias capacidades. Isso pode levar a relacionamentos coo dependentes na vida adulta.

    Probabilidade de ressentimento e culpa

    Apesar de parecer o “privilegiado”, o *filho dourado* também pode sentir ressentimento por ter sido usado como uma extensão da mãe. Ao mesmo tempo, pode carregar culpa por não conseguir atender perfeitamente às expectativas.

    Desenvolvimento de traços narcisistas e psicopáticos

    O papel do “filho dourado” em famílias com mães narcisistas pode, ainda, criar condições que favorecem o desenvolvimento de traços narcisistas e, em casos extremos, até mesmo psicopáticos. Isso ocorre devido à dinâmica emocional e psicológica imposta pela mãe narcisista, que molda a personalidade do filho de maneira disfuncional, criando assim a propensão ao narcisismo, onde se pode notar:

    Idealização Excessiva: O “filho dourado” é frequentemente idealizado como perfeito e superior, o que pode levar ao desenvolvimento de um senso inflado de grandiosidade. Essa idealização constante pode criar uma dependência de validação externa, característica central do narcisismo.

    Falta de Empatia: A mãe narcisista muitas vezes não ensina empatia ao “filho dourado”, pois ele é visto como uma extensão dela mesma, e não como um indivíduo separado. Isso pode resultar em dificuldades para se conectar emocionalmente com os outros. A pressão para atender às expectativas irreais da mãe pode levar o “filho dourado” a desenvolver traços narcisistas como mecanismo de defesa, protegendo-se de sentimentos de inadequação.

    Propensão à Psicopatia

    Falta de Limites Morais: Em alguns casos, o “filho dourado” pode ser ensinado, direta ou indiretamente, que suas ações não têm consequências, já que seus erros são frequentemente ignorados ou minimizados pela mãe. Isso pode levar a uma falta de respeito por normas sociais e limites éticos.

    Manipulação Aprendida: A dinâmica familiar pode ensinar o “filho dourado” a manipular os outros para obter o que deseja, especialmente se ele observa a mãe narcisista utilizando essas táticas. Faz-se interessante notar que a manipulação pode se estender até mesmo à própria mãe narcisista.

    Desconexão Emocional: A ausência de um vínculo emocional saudável pode resultar em uma desconexão emocional, característica associada a traços psicopáticos. Nem todos os “filhos dourados” desenvolvem narcisismo ou psicopatia. Fatores como a presença necessária de outras figuras de apego saudáveis, experiências externas positivas e principalmente a busca por autoconhecimento podem mitigar esses riscos.

    Efeitos no Filho Bode Expiatório

    Baixa autoestima e sensação de inadequação

    O “filho bode expiatório” cresce internalizando mensagens de desvalorização. Isso pode levar à sensação de que nunca será suficiente e ao desenvolvimento de uma autoimagem negativa.

    Resiliência e independência emocional

    Paradoxalmente, muitos “filhos bodes expiatórios” desenvolvem uma forte resiliência e uma autonomia emocional significativa, já que aprenderam desde cedo a se sustentar emocionalmente sem o apoio da mãe.

    Dificuldade em confiar em relacionamentos:

    A rejeição constante pode gerar insegurança e dificuldade em formar relacionamentos saudáveis, seja por medo de abandono, seja por não se sentirem dignos de amor.

    Maior inclinação a buscar autoconhecimento:

    Devido aos traumas vividos, o “filho bode expiatório” frequentemente é mais inclinado a buscar terapias e explorar sua psique, o que pode levar a um crescimento pessoal profundo.

    Consequências Compartilhadas

    Independentemente do papel, os filhos de mães narcisistas compartilham algumas dificuldades comuns:

    Relacionamentos disfuncionais

    Há uma tendência a repetir padrões tóxicos nas relações interpessoais, seja como reflexo da dinâmica familiar, seja por falta de referência saudável.

    Sentimento de culpa ou dúvida

    Esses filhos podem carregar um senso de culpa constante, questionando-se se estão sendo “bons o suficiente”

    Necessidade de validação externa

    Ambos os papéis aprendem a basear seu valor nas opiniões e reações dos outros, o que pode ser desafiador no âmbito social e profissional. No caso do “filho dourado”, a validação externa passa pela demonstração, mesmo que falsa, de grandeza social e da ênfase em bens materiais que demonstrem status social.

    Recuperação Psicológica

    Para os filhos de mães narcisistas, a recuperação frequentemente envolve identificar e desmantelar esses padrões projetivos. A terapia psicanalítica pode ajudar a reconstrução de uma autoimagem mentalmente positiva, separada das demandas e projeções maternas, além de ajudar o paciente a desenvolver limites benéficos e autonomia emocional, já que o foco no setting analítico é a exploração do inconsciente e das dinâmicas familiares, auxiliando a compreensão das raízes desses comportamentos e promovendo um desenvolvimento emocional mais saudável.

    Artigo escrito por Julieta Pedrosa. Analista em formação. Graduada em Arquitetura e Urbanismo/UFRJ. Pós-graduada em Análise e Avaliação de Projetos/FGV. Formada em Gemologia e CAD/CAM pelo GIA-Gemological Institute of America, com diversos cursos nacionais e internacionais na área da Joalheria. Designer de joias no Julie Joias Brasileiras Atelier (IG @juliejoiasbrasileirasatelier), produz também conteúdo diário sobre psicanálise e autoconhecimento no IG @analisandose_ Escritora, professora de História da Joalheria e de Gemologia. Livro: Pequenos Contos no Espelho, disponível na Amazon https://encurtador.com.br/uRZP5

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