Artigo sobre como maternidade e suas dificuldades levam a mulher de volta às suas origens.

Maternidade e suas Dificuldades: Um Encontro com a Própria Infância

Publicado em Publicado em Psicanálise e Saúde

Neste artigo, falaremos sobre como a maternidade e suas dificuldades proporcionam para a mulher, o retorno às suas origens.

Esta abordagem é relevante porque entender que a mulher reproduz com sua prole comportamentos aos quais foi submetida enquanto bebê/criança/adolescente, pode permitir a correção em terapia e a não transferência adiante dos comportamentos negativos.

Como objetivo, buscaremos mostrar que a vida da mãe refletirá completamente na forma que ela criará seus herdeiros, uma vez que agirá tentando corrigir falhas que ela considera importantes e também replicará comportamentos dos pais, que considerou como satisfatórios durante sua infância, adolescência e até mesmo, vida adulta.

Na primeira parte do artigo, falaremos sobre o poder da influência na formação do caráter da mãe. Na segunda parte, focaremos em demonstrar como a criação da mãe pode influenciar na de seus filhos, e como é possível evitar que comportamentos negativos sejam reproduzidos, quebrando-se assim, um ciclo de hábitos degradantes.

Para atingir esses objetivos, a metodologia aplicada foi a de pesquisa bibliográfica.

Impacto da maternidade na infância e da infância na maternidade

Ao falar-se sobre maternidade, já se cria uma carga de culpa voltada para a mãe em questão. Esquece-se que antes de ser mãe, a mãe, foi filha. Muito do que se é hoje, é reflexo do que se foi ensinado a ser antes.

Cobra-se que a mãe seja calma, seja paciente, seja amorosa, seja presente, cumpra todos os seus deveres enquanto cuidadora e responsável por aquele ser por ela gerado durante os 8 ou 9 meses de gestação.

Mas esquece-se que ao ser gerada também um dia, pode não ter recebido qualquer migalha de afeto ou cuidados que deveriam ter sido a ela destinados desde o momento da sua concepção.

O ambiente e sua influência

Muitas mulheres recebem desde a gestação um ambiente totalmente hostil e inóspito. Mulheres essas que mais tarde terão forte tendência a reproduzir os mesmos comportamentos e ambientes destrutivos nos quais estavam inseridas.

É importante entender que não se pode cobrar uma pessoa de oferecer aquilo que ela nunca recebeu. Sem a base adequada ou o modelo esperado, dificilmente a pessoa desenvolverá habilidades específicas no maternar.

Não se pode garantir que filha de bons pais, será boa mãe, mas a chance de ser boa mãe, ao menos será maior por ter convivido por anos com bons exemplos.

A visão de Winnicott

Ainda sobre a mãe, Winnicott nos diz que ela precisa de proteção e esclarecimento; necessita do melhor oferecido pela ciência médica quando o assunto são os cuidados físicos.

Precisa de rede de apoio, que dê a ela tempo para adequar-se à nova função sem querer ensiná-la a sentir aquilo que sentirá naturalmente com o conviver com seu bebê. Segundo Winnicott, ela possui a capacidade de se identificar com o bebê a partir de sua forma de ter sido cuidada.

Esse é o tipo de conhecimento que não se pode ser aprendido através de livros, cursos ou com ensinamentos de profissionais da saúde, é um conhecimento adquirido com a lida diária com o bebê. Cada mãe é única em seu maternar, independentemente do tipo de criação recebida.

Reprodução ou Exclusão de Comportamentos dos Pais

Se for feita uma pesquisa sobre o grau de satisfação de cada filha com seus pais, a surpresa seria grande ao se identificar um elevado grau de revolta quando o assunto é criação dada pelos pais.

A maioria das mulheres não pretende reproduzir boa parte dos comportamentos dos pais, quando essas eram os bebês. Antigamente o conhecimento era limitado e ainda se usava bastante da famosa sabedoria popular.

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Escuta-se com frequência dizeres como “Apanhei e sobrevivi” ou ainda, “Comi e não morri”, todas as vezes que novos comportamentos tentam ser implementados e as anteriormente apenas mães, mas hoje, também avós, indignam-se com o fato de não serem consideradas exemplos completos de atitudes na criação dos netos.

A Avó e o anseio de Corrigir-se

A reação negativa de muitas avós mediante a reprovação das filhas da forma como foram criadas, não querendo assim, reproduzir comportamentos com os netos, deixa claro que em algum momento, as avós quando eram filhas também, foram ensinadas que só existia uma maneira de criar seus filhos, maneira essa que jamais poderia ou deveria ser modificada, pois somente essa seria a ideal e geraria bons resultados futuros.

Não se deve enxergar a avó como inimiga, mas como quem um dia também gostaria de ter recebido e dado a melhor educação possível, com respeito, amor e sabedoria, porém, por desinformação de gerações anteriores, não teve oportunidade.

Se não se coloca no lugar da avó, fica difícil conviver com a visão de que ela “quer estragar seu filho”. Ela não quer estragar, quer corrigir de alguma forma aquilo que sente que está tendo uma segunda chance para fazer.

Mãe e o Bebê como Um

Uma mãe cheia de traumas, provavelmente passará uma visão de mundo temerosa para o seu filho, que desde cedo sentirá e aprenderá que deve se manter distante quando o assunto é relação interpessoal e também deve se preservar de todas as maneiras possíveis de qualquer frustração ou mal do mundo.

Deve-se tentar ao máximo manter a criança longe de todo tipo de influência que vá modificar sua forma de ver o mundo, para uma forma negativa.

Por um bom período de tempo, existirá um indivíduo único formado por mãe-bebê, que sentirá as mesmas coisas, viverá as mesmas coisas, um será interdependente em absolutamente tudo.

O Vínculo Mãe e Bebê

O estado emocional e físico dos dois estará sempre correlacionado:  se o bebê adoece, a mãe adoece junto, se a mãe adoece, o bebê adoece junto.  Se o bebê não dorme, a mãe não dorme, vivendo assim também os dois, os efeitos da privação do sono.

Não tem como apenas um ser afetado. Tudo que afetar um, afetará o outro, afinal, tornam-se um ser único.

Desde a gestação quando o bebê já se encontra ligado à mãe, deve-se cuidar para que essa relação seja preservada e a mãe, sendo responsável por transmitir ao novo ser em formação.

Tudo o que se passa do lado de fora, precisa buscar manter-se em equilíbrio constante para evitar que o bebê já sofra pelas dores do mundo mesmo antes de se fazer fisicamente presente nele do lado externo.

Entendendo que existe um complexo mãe-bebê, pode-se então buscar formas de melhorar essa relação tão importante que será sempre a responsável por continuar a espécie humana. Uma mãe com suas dores sanadas e pensamentos esclarecidos, terá capacidade para formar novas gerações de adultos melhores.

A psicanálise como terapia para mães

A psicanálise é uma abordagem clínica teórica que tem como objetivo explicar o funcionamento da mente humana, auxiliando no tratamento de distúrbios mentais e neuroses. Ela é responsável por estudar a relação entre os desejos inconscientes, os comportamentos e sentimentos vividos pelos seres humanos.

O papel do psicanalista é escutar o outro, ouvir o sofrimento exposto, acolher a sua angústia, amparar o seu desespero e guiar a pessoa pelo seu desamparo para que possa se reencontrar e de forma ainda mais completa.

A dor exposta precisa ser ouvida. A escuta psicanalítica transforma a dor em experiência emocional, facilitando o entendimento e a aceitação do passado, de forma que o mesmo reduza sua interferência negativa no hoje.

O atendimento psicanalítico pode ocorrer de diferentes formas, dentro de uma clínica, ou até mesmo em um momento único, como, por exemplo, mediante alguma situação dentro de um supermercado onde alguém entre em uma crise de ansiedade.

Organizando e Curando a Dor

A ideia é organizar a dor. Organizar para que o sofrimento possa ser compreendido e então, tratado.

O primeiro passo para curar a dor, é saber de onde ela vem. Ao identificar os pontos de dor, organiza-se então a ordem para que sejam tratados da melhor forma possível. A mente precisa de uma lógica para funcionar com efetividade, caso contrário, ficará em conflito até que se tenha um método para resolução do caos.

Pode ser que seja necessária a realização de diversas sessões de análise, como pode ser que, se bem disposta e não relutante, a pessoa analisada consiga entender seus pontos em um atendimento único. Não necessariamente levará meses para resolver pendências adormecidas.

Um breve Estudo de Caso

Recentemente houve um caso de uma mãe que viu seu recém-nascido enfrentar a COVID. A mãe entrou em total desespero quando viu seu bebê ainda sem imunidade alguma, tendo que passar por uma doença que ceifou milhões de vidas em um curto espaço de tempo.

O desespero da mãe não se baseava apenas na situação presente. Baseava-se no fato de anteriormente o cenário ser de guerra. Não se tinha vacina, não se sabia como tratar a doença e muito menos o que se esperar de sua evolução.

Na memória dela, estava registrado o difícil período onde os primeiros casos foram surgindo e assustando a cada pessoa que passou a temer pela própria vida, que dirá pela vida daqueles que dela dependiam.

Ao levar seu bebê para atendimento no pronto socorro devido ao seu péssimo estado de saúde, entrou em crise de pânico e não conseguiu prosseguir com a criança, necessitando que a avó ficasse responsável por cuidar do bebê durante o primeiro atendimento hospitalar, enquanto a mãe precisou de atendimento médico também, pois sua pressão ficou extremamente elevada.

A Escuta Livre como solução

Ao praticar a escuta livre com essa mãe, ela deixou claro que seu medo estava ligado ao futuro. A não saber o que esperar da evolução da doença na sua criança indefesa. A angústia e a dor eram enormes porque o medo de que a onda de vidas levadas se reiniciasse pelo seu filho, era predominante.

Ela não conseguia em sua mente, criar um quadro diferente da catástrofe em que se enxergava naquele momento.

Parte de seu atendimento médico consistiu em ser ouvida pelo atendente do hospital, que tentou de todas as formas confortá-la dizendo que o cenário hoje era diferente. Que a doença evoluiu para algo mais simples e com menor chance de morte. A partir de então, a mãe que foi ouvida em suas dores, conseguiu organizar seus pensamentos para lidar com o quadro da melhor maneira possível, conseguindo então, cuidar do seu bebê internado.

Um fortalece o Outro

Caso não fosse praticada a escuta livre, essa mãe teria caminhado para um infarto, uma vez que sua pressão já estava afetada pela desorganização mental e emocional presenciada pela tensão da situação. O complexo mãe-bebê precisava ser restaurado.

Sem a mãe presente, o bebê ficaria ainda mais fragilizado, tornando sua recuperação mais difícil e demorada, o que automaticamente, aumentaria o sofrimento da mãe que estaria afastada do seu bebê por conta do seu próprio desequilíbrio psíquico.

Como funciona a Culpa Materna?

Quando o bebê fica doente, a mãe sente que falhou em sua missão de cuidar dele. Sente que não fez tudo o que estava ao seu alcance para proteger esse pequeno ser que precisa de tantos cuidados desde o nascimento. Ela sente que sua fortaleza foi atacada por ser insuficiente.

Trata-se de muito mais do que apenas uma doença afetando um bebê. Trata-se de um ego ferido, de uma sensação de perder uma batalha árdua pela sobrevivência e bem estar daquela criança.

Diante de situações assim, a maioria das pessoas não sabe como lidar com o sofrimento da mãe. Acham que ela sofre apenas pelo estado de saúde físico do bebê ou da criança, mas não, na verdade, ela sofre por um vazio que fica quando olha para si e não vê seu bebê em seus braços.

Aquela vida que está sob sua responsabilidade e estava talvez até então, somente sob seus cuidados, fica exposta e dependente de cuidados de pessoas estranhas que nada sabem sobre aquele indivíduo em formação.

Analisando as origens do Sofrimento da Mãe

A mãe se sente violada ao ver o filho ser submetido a diversos procedimentos médicos, sem poder interferir ou impedir, mesmo que façam seu filho chorar em desespero.

Ela se vê em uma prisão sem grades, pois ao mesmo tempo em que quer pegar seu filho e levá-lo dali, protegê-lo de agulhas e radiação de exames, precisa deixá-lo e ainda segurá-lo à força para que possa ser submetido ao necessário naquele momento.

Faz-se necessário ouvir com muita atenção e cautela cada palavra pronunciada por essa mãe, para que se possa entender onde de fato o sofrimento começou.

Muitas vezes, a reação é proporcional ao material anterior que a mãe portava. Se essa mãe não teve amparo ou não se sentiu protegida por sua mãe na infância, muito provavelmente o desespero se dará por entender que seu filho poderá sentir o mesmo grau de abandono sentido por ela quando ela era a dependente dos cuidados maternos.

A mente humana não se fixa apenas às experiências atuais. Ela faz pontes. Faz pontes que alcançam distâncias imensas de 10, 20, 50 anos.

O sofrimento quando analisado isoladamente, nunca será compreendido por completo, uma vez que as reações estão diretamente ligadas às experiências vivenciadas no passado.

Mães como Formadoras do amanhã

Formadoras do amanhã, são todas aquelas que dão origens e educam novos seres. O amanhã trata-se do futuro, as próximas gerações de pessoas que habitarão a Terra.

Sem as formadoras do amanhã, não seria possível dar continuidade a espécie humana, visto que os bebês humanos são totalmente dependentes de cuidados, pois diferente de todas as outras espécies do reino animal, não conseguem sobreviver sem cuidados básicos vindos da mãe.

Deve-se sempre enxergar nas mães, o futuro da Nação! Quando uma mãe é desrespeitada, maltratada, frustrada pelas dores e desafios da vida, ela refletirá automaticamente boa parte de tudo isso em seus filhos.

Mães mental e emocionalmente adoecidas, criarão filhos que correspondam ao seu estado, gerando então, um ciclo de pessoas que não se encontram aptas a viver bem num mundo de desafios como é a Terra.

As Redes de Apoio

Faz-se necessário criar uma rede de apoio entre as próprias mães para que essas possam trocar informações valiosas e desabafar sobre seus movimentos diários, uma vez que seria uma boa forma de trocando experiências, tornar menos difícil viver o desconhecido.

A sociedade seria muito mais adequada se ao invés dos julgamentos, as mães distribuíssem palavras de apoio e reconhecimento pelo árduo trabalho que cada uma desempenha na formação de novos seres.

Ao contrário disso, vê-se na atualidade que as próprias mães se atacam entre si e o objetivo é apenas de competir sobre quem possui as melhores habilidades e filhos mais adiantados ou providos de características superiores.

A dificuldade de ter que ser “Perfeita”

A atual sociedade trata as mães como se fossem obrigadas a permanecerem sempre bem e não dependentes de qualquer espécie de ajuda, tornando impossível que elas estejam com a saúde mental perfeita.

As cobranças são inúmeras e normalmente saem de pessoas próximas que acreditam que toda mãe precisa saber resolver todos os problemas dos filhos e sem reclamar de nada ou ainda sem expressar qualquer cansaço ou dúvida.

Não se permite que ela demonstre fraquezas ou inseguranças, pois caso faça isso, é digna de julgamentos pesadíssimos, principalmente por outras mães que já passaram pelo mesmo, mas esqueceram-se que nem sempre foi fácil para elas também.

A importância da Comunidade como Rede de Apoio

Se não se criar uma boa rede de apoio para as mães de hoje, as mães de amanhã serão cada vez mais instáveis e viverão tentando curar feridas que nem a elas pertencem.

Viverão como sombras de suas mães e gerações anteriores. Cada vez mais crianças estarão emocionalmente e psicologicamente desamparadas, sentindo que precisam dar conta de tudo sozinhas, pois quem deveria apoiar e cuidar delas, não tem estrutura para isso.

Quanto mais as mães forem criticadas, humilhadas, colocadas como alvo de julgamentos perversos, mais difícil será construir uma sociedade forte.

Se quem educa não está bem, quem é educado também não ficará bem, mas parece que a maioria das pessoas coloca uma venda nos olhos para não enxergar essa realidade.

Que se criem formas de ajudar as formadoras do amanhã, para que o maternar delas seja mais leve e que traga melhores frutos. Muito terá para doar, aquela que muito receber. Que esse entendimento possa chegar para todos através da informação espalhada em redes sociais, em meios de comunicação e no famoso boca a boca.

A Psicanálise como Solução Real

Com a apresentação deste artigo, conclui-se que é de suma importância que as mães façam análise para que possam falar sobre suas dores e não transferir elas para os seus herdeiros.

Por muito tempo não se tinha entendimento da eficiência de fazer análise, mas agora, sabe-se que através dela é que se cura aquilo que ficou adoecido por anos e anos.

De nada adianta ler, estudar, consumir inúmeros conteúdos sobre maternidade tranquila, se aquilo que realmente perturba, não puder ser colocado para fora e tratado da forma adequada.

O sofrimento não será reduzido, a insegurança continuará existindo e a mãe nunca entenderá o motivo de alguns de seus comportamentos inadequados, que acabarão afetando os que por ela forem criados.

Os Efeitos da Psicanálise nas Dificuldades da Maternidade

A terapia psicanalítica tem efeito extremamente positivo sobre a maternidade, uma vez que faz com que a analisada volte às suas memórias de infância e possa então entender quais comportamentos a afetaram e afetam até o presente momento, a ponto de impedir que ela ofereça seu melhor ao seu filho.

Identificar dores antigas é essencial para resetar a sobrecarga mental e física.

Sem a análise, dificilmente a mãe conseguirá concluir sozinha o que precisa ser curado ou modificado em sua forma de agir e pensar, pois não terá acesso às informações, uma vez que muitas delas estarão contidas no mais profundo da sua mente, afetando-a de forma que ela nem imagina e impedindo que essas mesmas memórias sejam apagadas ou esquecidas.

A mãe que recebe acompanhamento psicanalítico desde a gestação, tem o poder de antes mesmo do bebê nascer, dar a ele a oportunidade de não ser afetado pelo que com ele não tem a ver. É uma forma de proteger o bebê de receber descargas de problemas que não dizem respeito a ele.

É a melhor maneira de evitar que essa criança já nasça recebendo o peso de situações não resolvidas no interior de sua mãe. Quantas pessoas talvez tivessem melhores destinos se sua mãe estivesse já em tratamento antes mesmo de seu nascimento?

Provavelmente um número imenso!

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