Artigo sobre a abordagem da filosofia e da psicanálise sobre os relacionamentos femininos.

Mulher e Relacionamentos: entre a filosofia e a psicanálise

Publicado em Publicado em Comportamentos e Relacionamentos

Neste artigo, traremos uma abordagem entre a filosofia e a psicanálise a cerca da mulher e relacionamentos.

O psicanalista francês Jacques Lacan duvida que um homem e uma mulher possam se encontrar e atingir o prazer que este encontro promete.

Lacan assegura que há uma falsa simetria nesse par, e que o desejo nasce simplesmente de uma falta – a falta que a criança sente ao perceber que não pode ter o amor do genitor de sexo oposto, a qual procura preencher na idade adulta.

No entanto, desejo não é falta, desejo é potência, já dizia Platão. Nós somos o desejo da vida em nós, movimentando-se dialeticamente entre nossos prazeres e nossos sofrimentos.

A dialética de Hegel

Tudo se movimenta numa dialética, segundo o filósofo Hegel. Isso significa que a uma tese se opõe uma antítese, dando origem a uma síntese, que aperfeiçoa a ideia inicial. Quanto aos seres humanos, Hegel dá o exemplo da “dialética do senhor e do escravo”.

As pessoas estão sempre se digladiando, numa eterna disputa entre quem vai ser o senhor e quem vai ser o escravo. Segundo ele, o senhor se enfraquece pela cômoda posição de senhor, e o escravo se fortalece pela difícil posição de escravo, e os papeis podem acabar por se inverter.

O maior desafio do ser humano

Hegel propõe, então, que o maior desafio de um ser humano é reconhecer o outro como outro sujeito e respeitá-lo por isso. Só assim saímos da “dialética do senhor e do escravo”, que ele considera inerente a todos os relacionamentos humanos.

Porém, ele adverte que não se pode querer fazer do outro um igual, pois isso é meio caminho andado para ele se tornar um rival, já que qualquer identificação tem a peculiaridade de ressaltar as diferenças, levando inevitavelmente a um conflito.

Mulher e relacionamentos: a questão da objetificação

Só que no relacionamento homem-mulher não faz sentido a mulher ver o homem como igual, porque, simplesmente, o homem não vê a mulher como igual, nunca. Se ele coloca a mulher sempre como inferior ou superior, é porque a vê como um objeto, objeto de desejo ou veneração, mas sempre objeto.

A mulher é socializada para ser escrava, assim, todo homem vai ser senhor de pelo menos um escravo: a sua mulher.

Desse modo, entender o tema “mulher e relacionamentos” inclui compreender a socialização da mulher entendida como “objeto”. Ela aprende como ser um bom objeto ou o melhor objeto, para talvez ser escolhida pelo senhor.

Essa é, na verdade, a maior armadilha para a mulher no relacionamento com um homem.

Superando a dialética

As mulheres sabem instintiva ou culturalmente sobre a dialética ou “moral do senhor e do escravo”. Sabem que o senhor depende tanto do escravo quanto este do senhor, e que, por esse motivo, depois de algum tempo os papéis se invertem.

Assim, são criadas para contar com isso e reforçar o padrão de mulher e relacionamentos. É o famoso conselho das mães: “Finge que é ele quem manda, finge que ele é o mais inteligente”.

A mulher tem de sair da “moral do senhor e do escravo”, pela qual se contenta em ser uma parte, em ter limites, e se adequar a uma vontade externa que foi internalizada. Tem de sair desse papel de objeto e mostrar que é um ser humano completo.

Mas para isso tem de ser! Ter coragem de ser o que é.

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    Um conceito para mulher e relacionamentos

    Jacques Lacan diz que não há um conceito geral para a mulher e por isso as mulheres não existem. Realmente, as mulheres não se unem porque não há algo em torno do qual se unir. Só sub-repticiamente, como não-linguagem – na vidência, na magia, na maternidade. A mulher deve se colocar como ser de linguagem, mesmo que a fala seja reservada ao falo, na nossa sociedade.

    A mulher é um ser de linguagem capaz de silêncios. De que adianta um conceito linguístico se não se referir ao Real? A mulher está em contato com o Real.

    Seu corpo conhece as dores e fenômenos do Real. Só que ela não conceitua sobre isso, não precisa.

    Conclusão: mulher e relacionamentos

    Mas a mulher precisa sim, se quiser sair desse lugar de objeto, dessa posição de eterna escrava em que foi colocada justamente por não ter voz, por não conceituar o que percebe.

    Pois, como disse o filósofo francês Gilles Deleuze, os conceitos inventam o mundo. Para ele, Freud inventou, e não descobriu, como se costuma pensar, o inconsciente.

    Do mesmo modo, a mulher, cada mulher, mesmo não tendo uma unidade socialmente reconhecida, pode se inventar como ser humano único e livre, ao reivindicar a potência que se esconde em seu silêncio.

    Este artigo sobre mulher e relacionamentos foi escrito por Adriana Rodrigues: psicanalista formada pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica

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