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Psicanálise Lacaniana: 10 características

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A psicanálise é um campo de estudo que surgiu no final do século XIX, com o trabalho de Sigmund Freud. Freud desenvolveu uma teoria sobre a mente inconsciente e o processo de terapia psicanalítica.

Mas o que significa psicanálise lacaniana? O que é ser lacaniano? Quais princípios e diferenças entre Lacan e Freud? Como funciona o processo de análise lacaniana?

Vamos listar algumas das principais características da linha lacaniana. De algum modo, apresentamos neste artigo um resumo com princípios e diferenças entre as contribuições de Lacan e Freud.

Porque, óbvio, pelo problema do vocabulário, o ensino precisa fazer o estabelecimento de diferenças (não variáveis ​​e não simétricas), no caso, da obra nova (Lacan) com sua influência (Freud).

Na sua trajetória, Lacan dialogou com o pensamento de importantes filósofos como Freud, Kant, Hegel, Heidegger, Kojève e Sartre. Como “herdeiros”, influenciou Derrida, Badiou e Zizek, alguns dos ilustres lacanianos.

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Quais são as diferenças entre Lacan e Freud?

Lacan concordava com Freud sobre a importância do inconsciente, mas tinha uma visão diferente de sua natureza. Para Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Isso significa que os pensamentos, sentimentos e desejos inconscientes são expressos através da linguagem.

Lacan também tinha uma visão diferente do desejo. Para Freud, o desejo é um impulso sexual reprimido. Para Lacan, o desejo é mais amplo do que isso. É o desejo de ser reconhecido pelo outro.

Além disso, Lacan tinha uma visão diferente da estrutura da personalidade. Para Freud, a personalidade é composta por três instâncias: o id, o ego e o superego. Para Lacan, a personalidade é composta por três registros: o real, o simbólico e o imaginário.

A psicanálise lacaniana é uma abordagem psicanalítica que é relevante para o mundo contemporâneo. Isso ocorre porque ela é capaz de lidar com a complexidade do mundo contemporâneo.

Além disso, a psicanálise lacaniana também é capaz de promover a transformação social.

O que é ser lacaniano?

1. Ser lacaniano é dar ênfase ao analista e à estrutura simbólica

Em primeiro lugar, o autor Miller sugere a ênfase ao analista (sua postura, suas palavras, sua condução) e à estrutura simbólica envolvida no processo de análise como características distintivas do lacanismo.

Um lacaniano não busca verdades absolutas do analista. O que importa é a forma como o analisando percebe sua realidade psíquica. Neste sentido, é comum analistas lacanianos defenderem que a psicanálise é implicar o sujeito analisando naquilo que ele diz.

Por exemplo, se um analisando diz “tenho depressão”, um psicanalista lacaniano poderá lhe devolver na forma de pergunta, potencializando a reflexão: “o que é para você ter depressão?”, ou “o que significa para você sentir-se deprimido?”.

2. Ser lacaniano é dar ênfase à centralidade da linguagem

Em segundo lugar, Lacan elaborou uma “psicanálise linguística”, podemos dizer. Neste sentido, Lacan se alinhava ao estruturalismo linguístico de Ferdinand de Saussure.

Para Lacan, as palavras não são transparências. Isto é, as palavras não são formas apenas de comunicar ou expressar as coisas. As palavras são, também, as próprias coisas.

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    Neste sentido, muitas vezes Lacan partia de uma palavra para refletir o que o desmembramento destas palavras poderia sugerir. Assim o fez com o termo “perversão”, que ele lia como “père-version”.

    3. A psicanálise lacaniana adota uma nomenclatura alternativa à freudiana

    Lacan ofereceu uma alternativa, usando outros termos e conceitos distintos de Freud. Trata-se de um vocabulário diferente, uma tentativa digamos de atualização. Falaremos abaixo um pouco sobre as atualizações de Lacan sobre a obra de Freud.

    Lacan propôs diversos termos novos, bem como propôs a ressignificação de termos da psicanálise freudiana.

    A forma como o analista e o analisando entender o erro é uma forma de pensar a correlação entre linguagem e psicanálise.

    4. A psicanálise lacaniana dá ênfase ao Sujeito e ao Outro

    O trabalho de Lacan tem como sujeito o Outro com uma letra maiúscula. O “Outro” (do insconsciente, do intrapessoal) se distingue do “outro” (das demais pessoas, do relacionamento interpessoal).

    Neste sentido, é relevante a reflexão de Lacan sobre o desejo. Para Lacan, o desejo é também o desejo pelo afeto de outra pessoa. Quando pedimos uma coisa a alguém, estamos pedindo principalmente o afeto do outro, não simplesmente a coisa pedida.

    Podemos entender:

    • o outro ou os outros como as pessoas com quem nos relacionamos; e
    • o outro como uma dimensão inconsciente de nós mesmos que lutamos para conhecer.

    A alteridade é a capacidade de entender a posição do outro / do Outro. A contribuição de Lacan pressupõe que sejamos capazes de fugir de verdades e autoverdades rígidas, para pensarmos como as ideias/palavras são entendidas e valoradas.

    5. A psicanálise lacaniana tem uma prática de atendimento clínico um pouco distinta da psicanálise freudiana

    A prática de Freud era, aparentemente, uma sequência de seis sessões de uma hora por semana, para cada paciente. Os anglo-saxões adotavam cinco sessões de cinquenta e cinco minutos, enquanto os franceses, três ou quatro sessões de quarenta e cinco minutos ou mesmo meia hora.

    Por sua vez, Lacan foi reconhecido por oferecer uma alternativa à prática psicanalítica prescrita por Freud, com temporalidade menos rígida e técnicas como suas sessões curtas ou ultracurtas.

    O essencial é você ler os Seminários de Lacan, ou pelo menos começar com um livro de um comentador, como Introdução à Psicanálise Lacaniana, de Bruce Fink. Enquanto isso, você pode ler alguns excertos e frases de Lacan que ajudam a compreender a visão do autor.

    6. O destaque da psicanálise lacaniana no papel do psicanalista

    O analista é um grande Outro, um homem onipotente, que não responde a qualquer norma, não está sujeito a qualquer lei superior. Ele veio para ver o analisando da maneira mais direta possível.

    Fala-se em desejo do analisando, mas também é preciso pensar o desejo do analista, que, a princípio, é o desejo de desvendar e “curar” o seu analisando. Entretanto, o analista que não reflete sobre a contratransferência irá inconscientemente desejar ditar o seu analisando, isto é, impor-se sobre ele.

    As relações transferenciais e contratransferenciais foram pensadas também por Lacan, seguindo a centralidade que Freud atribuía a esses elementos. Da mesma forma, o conceito de resistência para Lacan, conceito também muito caro a Freud.

    7. Ser lacaniano é abrir a psicanálise para a modernidade

    A psicanálise do século XXI é muito diferente do proposto inicialmente por Freud. Homem, pai, filho, amante, mulher, mãe, filha, os entes queridos são outros.

    E as possibilidade de inter-relações se ampliam, com mecanismos que facilitam o contato presencial e virtual. O mundo não é mais o mesmo: os avanços em ciência e comunicação trouxeram novas soluções e reformularam as questões dos seres humanos.

    As pessoas não ficam mais doentes da mesma forma, não estão mais felizes ou infelizes da mesma maneira que antes.

    A orientação de Lacan deu à psicanálise freudiana um campo hermenêutico novo, preparando-a para o tratamento deste sujeito pós-moderno, caracterizado pela falta de paradigmas ideais, de complexos rígidos como o de Édipo.

    O sujeito é potencialmente irresponsável em sua subjetividade. Lacan foi fundamental, ao ampliar o leque temático da psicanálise.

    8. A psicanálise lacaniana usa técnicas psicanalíticas, mas sem ser dogmática

    Em razão do item anterior, o analista clínico hoje, muito por influência de Lacan, foca na relação da pessoa com seu prazer, com seus pavores, não se prende a nenhum padrão ideológico ou procedimental fixo. Novamente, temos a contribuição de Lacan, que tinha uma abordagem não dogmática.

    Neste sentido, é essencial entender o que Lacan chamava de suposto-saber ou sujeito suposto-saber. Trata-se de uma contribuição muito relevante para pensar o lugar do analista, do analisando e da relação analista-analisando no setting analítico.

    9. Ser lacaniano é, no fundo, uma forma de ser freudiano

    Por fim, apesar das diferenças, Lacan promove seus debates a partir do terreno da psicanálise, tendo a psicanálise freudiana como partida. Portanto, ser lacaniano é estar num no processo de ser freudiano, mas extrapolando e testando os limites das primeiras contribuições de Freud.

    Aprofundar-se na obra de Freud é um convite feito por Lacan. Daí ser muito rico conhecer Lacan: na sua vida, obra e conceitos principais. E pode-se dizer que durante muito tempo foi possível pensar que ser um lacaniano não era mais o freudiano, por óbvio, por não ser um “autêntico freudiano”.

    23 thoughts on “Psicanálise Lacaniana: 10 características

    1. Expedito Cerqueira Serra disse:

      Esclarecedor, oportuno, objetivo. Muito bom!

      1. Objetivo? Só vi proposições abstratas…de concreto apenas que as sessões podem ser mais curtas. A impressão que tenho é que ser freudiano e lacaniano dá no mesmo, na hora de estar na frente do paciente. A diferença está no palavreado da teoria. Gostaria que alguem descrevesse com exemplos a diferença, se existir.

    2. AMERICO LONGO FILHO disse:

      Não permanecer estático é característica evolutiva, isto mostra Lacan, portanto, sigamos!

    3. Nilva Alves silva disse:

      O mais importante que ser para lacaniano, é preciso ser freudiano primeiro.

    4. Ivonete Maria da disse:

      Só foi relevante para mim a parte do dogmatismo, depois disso deu uma clareada, ou seja, não se fecha um diagnóstico, olhando por uma perspectiva, há outras possibilidades segundo Lacan.

    5. Roberta dos Santos disse:

      A base da psicanálise lacaniana sem dúvida é a linguagem. O interior simbólico do sujeito e do Outro. O foco é o analista e o analisando que por sua vez representantes de uma cultura de conteúdos simbólicos importantes ao processo psicanalítico.

    6. Dr. Francisco Mello disse:

      Tive a impressão, pelo exposto, que Lacan quis dizer: “Freud é o principal, eu, sou um plus, um acessório.

      1. Danuzia Martins disse:

        Com certeza!
        Até por respeito, é como se Faustão quisesse ser mais que a Globo, por mais que ele tenha audiência a Globo sempre será a patroa. Rsrsrs
        Obs: foi só um exemplo, eu não assisto Fausto Silva rsrs

    7. Daniel Conte disse:

      Por que as correntes psicanalíticas têm de ter uma função singular? Não podem ser um fluxo que se retroalimenta e avança? Têm de ser compartimentadas? Como vocês as veem epistemicamente? Penso que ser lacaniano, não significa deixar de entender o Outro como partícipe deste Ser-aí-agora.

    8. Victor Hugo Pinheiro Santos disse:

      Penso que respeitados os fundamentos do ponto de partida, que define uma conduta, não devemos ser Freudianos ou Lacanianos como quem torce para um time de futebol. A peculiaridade como cada analisando é tocada é que define a progressão do tratamento. A palavra é também um importante símbolo de acordo como é assimilada pelo analisando e não somente como é proferida pelo analista. O processo analítico é dinâmico e não necessariamente convencional.

    9. Que linguagem dificil gostria ver um relato de caso usando diferentes teoricos

    10. FELIPE RIGON BORBA disse:

      Disse o gênio, Lacan: tudo está em Freud, basta lê-lo!

    11. Maria do Carmo O. Mombach disse:

      Interessante! Faria das palavras de Descartes as minhas: “Daria tudo que sei pela metade do que ignoro “. Gostaria tanto de poder saber mais da psicanalise. Vejo que estudo… estudo…. Mas que o conhecimento sempre está longe…. Tenho uma sede de saber…. mas isso nao acontece por osmose…. Gostaria de ser três ou quatro ao mesmo tempo e poder me dedicar mais a saber aquilo que ignoro e me fascina. Gostei muito do artigo. Me despertou curiosidade para saber mais de Lacan… aprofundar.

    12. Deysa Prazeres disse:

      Os rótulos e títulos nos limitam, o importante é permanecer no aprendizado, buscando aprimorar nossas técnicas dia após dia na vivencia dos atendimentos e nas pesquisas para estarmos sempre atualizados.

    13. maria domingas disse:

      Acho que as teorias Lacanianas vieram nos afrouxar as gravatas Freu diana .
      Gostei muito

    14. Sergio Souza Lapitz Machado disse:

      O que eu acho lamentável é que a grande maioria dos psiquiatras deixaram, na sua praxis, a psicanálise de lado. Os que estão em tratamento são identificados pelas drogas que ingerem e, muitas vezes, são tratados como robots !!! Quanto mais falarmos em psicanálise mais estamos dignificando a espécie humana… ommm …

    15. Roberto Álvares disse:

      Freud x Lacan, Lacan x Freud? Não, jamais! O conhecimento, ainda mais em se tratando de algo tão sublime quanto a mente, o ser humano, não rivaliza, complementa-se! Para tal, as “partes ” desse “todo” , deverão ser estudadas, interpretadas, praticadas, para, só, daí, o conhecimento cada vez mais ampliar em si mesmo, per si ! Viva o mundo dialético!

    16. Uau! Agora sou instigado à visão psicanalítica de Lacan ampliando noções freudianas. Que riqueza de domínio – o da Psicanálise. Como não aceitar o convite desse gigante que fez a releitura do fundador da Psicanálise e disponibilizou suas conquistas. Artigo ótimo, obrigado.

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