Dois casos emblemáticos sobre Sublimação, Melancolia e Depressão do ponto de vista da Psicanálise,

Sublimação, Melancolia e Depressão: dois casos emblemáticos

Publicado em Publicado em Arte e Psicanálise

Traremos neste texto uma visão da psicanálise, sobre o ponto de vista do aluno Alves Andrade, sobre dois casos emblemáticos envolvendo Sublimação, Melancolia e Depressão:

Corria o ano de 1977. Jantar na casa de Baby Consuelo, renomeada posteriormente Baby do Brasil. Presentes ao evento, além de Baby e Dedé Gadelha, imagino, Pepeu Gomes, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Jorge Benjor. Além das desses presentes imagináveis.

Lá estavam Caetano Veloso, o cara que revolucionou a MPB com o movimento tropicalista, e o surfista carioca José Artur Machado, o Petit. Um metro e oitenta, bronzeado, olhos verdes, lindo. Petit era considerado a beleza masculino de Ipanema. O jantar era em sua homenagem.

Caetano Veloso

Caetano veloso, músico, sensível a qualquer tipo de beleza, afirmou certa vez sobre o cantor Paraibano Chico César que “quando vi Chico César me apaixonei”. Isso demonstra a ausência no compositor baiano de qualquer tipo de machismo ou preocupação com a falsa moral da elite hipócrita e demagoga, com o sentido real da palavra, aquele que quer conduzir o povo, por esse motivo o quer ignorante, machista, homofóbico.

Daí a grande necessidade se apregoar comportamentos moralistas, os quais ela (a elite) não possui. Caetano, naquele jantar, estava maravilhado com a beleza e a masculinidade do jovem surfista. Pensa: “menino do rio, calor que provoca arrepio, dragão tatuado no braço… coração…” Naquele momento Caetano flerta com o rapaz, discretamente se insinua, tece elogios: “de eterno flerte, adoro ver-te”.

A Sublimação

Laplanche em seu dicionário de termos psicanalítico define sublimação, a partir dos estudos freudianos, como “atividades humanas sem qualquer relação aparente com a sexualidade, mas que encontrariam seu elemento propulsor na força da pulsão sexual”.

Para Freud, o EGO diante do risco de cometimento de uma ato vergonhoso, transporta essa energia para algo de valor para a sociedade, isso de forma inconsciente.

O artista que sublima seus desejos recônditos no ID, transformando-o em uma obra de arte, não tem consciência desse desejo. A sublimação também pode ser percebida em outras funções sociais, como a missão sacerdotal, em que toda a energia sexual é convertida em trabalho para o bem da coletividade.

Madre Tereza de Calcutá, albanesa que dedicou sua vida aos pobres e enfermos na Índia, é um bom exemplo dessa defesa que o EGO utiliza denominada Sublimação.

O Menino do Rio

Voltando ao jantar, em que Caetano está maravilhado com a beleza do surfista, temos a mesa farta, bebida à vontade e uma conversa bem animada. Súbito Caetano Veloso toma de uma violão e compõe ali mesmo Menino do Rio.

Depois dos pensamentos supracitados, os quais são mencionados na música, ele torna público o sublime da obra de arte e diz “toma essa canção como um beijo”, para arrematar mais à frente: “eu canto pra Deus proteger-te”.

A música tornou-se grande sucesso na voz de Baby Consuelo, sendo tema de abertura da novela Água Viva, da Rede Globo, em 1980. Menino do Rio é uma dessas músicas que jamais deixarão de ser tocadas nas FMs brasileiras.

José Arthur Machado: o Petit

É uma obra de arte do compositor baiano Caetano Veloso e da Música Popular Brasileira. José Artur Machado era membro da classe média carioca e em 1974 adentrou o atelier do dinamarquês Knud Gregersen para que fosse tatuado em seu braço um dragão.

Ato esse revolucionário porque a tatuagem, para a sociedade hipócrita e falso moralista, era coisa de malandro, vagabundo, presidiário. Caetano, em sua música Menino do Rio, faz apologia a esse fato: “Dragão tatuado no braço”. Petit, como era conhecido entre os pares, era um rapaz feliz, tinha tudo que um jovem da classe média carioca queria ter: beleza, mulher, dinheiro e fama.

Tudo corroborava para sua felicidade, inclusive um filme foi feito a partir de O menino do Rio, em 1982. Em 1987, entretanto, sofreu grave acidente, quando estava na garupa da moto de um amigo.

A Depressão

O menino do Rio não aguentou o fato de ter ficado paralítico, não aceitou as novas formas do corpo, que muito diferia daquele que encantara as mulheres e o consagram na praia de Ipanema.

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    A depressão pouco a pouco o foi afastando de si, de todos, do mundo. Em 1989 Petit cometeu suicídio. Enforcou-se com a faixa do kimono de jiu-jitsu.

    No artigo Melancolia e Depressão: um estudo psicanalítico¹, discorre-se a respeito das diferenças entre melancolia e depressão. Mesmo que o assunto seja difícil de se exaurir, dá para percebermos algumas distinções entre essas duas perturbações mentais.

    Segundo Lambotte (apud Ed Mendes at al) a melancolia é uma patologia narcísica diferente da depressão. A falta de interesse pelo mundo exterior representa um dos sintomas principais tanto da depressão quanto da melancolia. No entanto, na depressão, o sujeito se desinteressa do mundo externo em função de um acontecimento real, traumático, como o luto, dificuldades profissionais, separações…

    A Melancolia

    Na melancolia há o concurso de um superego muito exigente, o que gera no melancólico um estado de autodestruição. Na melancolia não há perda de um objeto. A perda é de si mesmo. O ego se perde no labirinto de pulsões regressivas às zonas erógenas do período psicossexual.

    Nesse contexto temos a pulsão de morte que leva o melancólico ao suicídio. O depressivo não possuiria esse carrasco (superego), uma vez que a depressão está relacionada com o ego real e o ego ideal. A perda do emprego, de um parente, ou uma situação leva o indivíduo à busca de um escape seja na droga, bebida, alimento etc.

    O caso de Petit está muito relacionado com Melancolia e seu ato autodestrutivo. Entretanto percebemos a perda de uma situação. Petit não aceitou a perda do status. Percebeu que os amigos se afastaram e ele teria muita dificuldade em ter uma vida “normal”.

    Normal aqui para ele seria o retorno ao glamour. Por isso essa dificuldade, levou-o a estado depressivo de tal ordem que ele preferiu a morte.

    Este artigo foi escrito por Francisco Alves Andrade, [email protected] , exclusivamente para o blog Psicanálise Clínica.

     

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